Beleza centenária: Canelas-de-ema-gigante

Por Roneijober Andrade - Publicado originalmente na Coluna Expressão
do Diário de Itabira, de 23 de fevereiro de 2020

Se tem uma planta nativa de nossa região que me fascina, é a canela-de-ema cujo nome científico da família é Velloziaceae. Ela é essencialmente tropical, sendo constituída por cerca de 250 espécies herbáceas e arbustos perenes, no território itabirano cataloguei mais de 30 diferentes.  A maioria das veloziáceas encontra-se nas formações quartzíticas da Cadeia do Espinhaço. A família exibe elevado grau de endemismo em Minas Gerais, característica que certamente tem influenciado para que várias espécies sejam relacionadas como ameaçadas. Minas Gerais é o Estado que apresenta o maior número de espécies. Destas, 23 estão relacionadas como ameaçadas de extinção, algumas das quais provavelmente extintas.
Algumas canela-de-ema possuem caules finos e eretos que lembram a perna da ave de seu nome. entre as existentes em Ipoema tem a Vellozia nanuzae, uma espécie rara de que, debaixo de sol forte, exala um cheiro adocicado. Seus compostos químicos estão sendo estudados para fins medicinais, inclusive no combate à Aids. A raiz da canela-de-ema é bastante utilizada para fazer chás para combater reumatismos e dores de coluna.
Mas, a que mais me chama a atenção é a Vellozia gigantea, já fiz outros textos sobre ela aqui na coluna Expressão e, em 2011, acompanhei a bióloga, Marina Dutra Miranda que veio pesquisar sobre os locais onde elas ocorrem no município de Itabira. Ela preparava sua dissertação de mestrado sobre a "Modelagem de distribuição potencial e conservação de Vellozia gigantea e Vellozia auriculata na cadeia do Espinhaço".
Aqui possuímos exemplares raros desta planta com cerca de seis metros de altura, levando em consideração que elas crescem em média, um centímetro por ano, é correto dizer que alguns exemplares da região têm cerca de 600 anos de idade. Ou seja quando o Brasil foi descoberto elas já viviam nas montanhas onde, centenas de anos depois, seria criado o município de Itabira. Por isso, temos a missão de preservar estas plantas, conscientizar as pessoas mais velhas que tem a cultura de dilacerar galhos que levaram cem anos para crescer simplesmente para auxiliar acender fogo no fogão à lenha, já que sua casca é inflamável.
Na semana passada, em Ipoema, tive o privilégio de ver alguns exemplares da Vellozia gigantea com flores, coisa rara já que suas flores duram cerca de dois a três dias. As cores podem variar de lilás ao branco. Beleza também nos líquens e nas orquídeas que usam a Canela-de emas-gigantes como forófitos.

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